Texto de Tríssia
Ordovás Sartori – publicação no Jornal Pioneiro, caderno almanaque página 16, 2/3
dezembro 2017.
Colocar-se no lugar do outro: eis um
dos grandes desafios dos nossos tempos. Tudo anda tão polarizado, tão cheio de certos e errados, que apenas uma
opinião parece importar – a minha e a dos que pensam do mesmo jeito. Uma olhada
na própria timeline do Facebook, diante de um assunto minimamente polêmico, já
serve como exemplo.
Mas aí uma palavrinha mágica, a
empatia, entra na moda (são
12,4 milhões de páginas no Google com o termo, seis vezes mais do que
"empoderada", por exemplo) para lembrar que é necessário e urgente
sair da bolha.
Colocar a palavra em prática aparece
como ação essencial ao futuro de cada um de nós. O filósofo australiano Roman Krznaric – que tem O
Poder da Empatia como obra mais recente – usa um termo que considero bem
interessante, "outrospecção",
para se opor à introspecção. Ele não
considera um mais importante do que o outro, acha fundamental que possamos
olhar para dentro de nós e descobrirmos quem realmente somos, mas também
considera imprescindível descobrir quem somos e viver fora de nós, com base na
observação e compreensão dos outros. O pensador afirma que o nível da empatia
no mundo está em decréscimo, dado ao modo mega individualista como vivemos,
embora sejamos naturalmente empáticos, predispostos a se comover e ajudar uns
aos outros – 98% têm capacidade à empatia, e a neurociência moderna acredita
que ela é um antídoto ao nosso egoísmo e pode nos deixar mais equilibrados.
Mas, claro, há que repudie a ideia. O psicólogo canadense Paul Bloom, no
livro Against Empathy: The Case for Rational Compassion (Contra a
empatia: o caso pela compaixão racional), aponta os perigos da empatia, como
seu uso pela literatura de autoajuda ou da propaganda política, para usar
exemplos sintéticos. Ele defende que sentir ou projetar as emoções dos outros
pode provocar desigualdades e imoralidades. Desta forma, assuntos relacionados
à moral, à ética e à economia deveriam ter um outro encaminhamento, mais
racional. Isso porque a empatia seria instintiva, irracional e tendenciosa.
Torço para que o vocábulo empatia não
se banalize, para evitar que as pessoas sequer possam ouvir falar nele (tal qual #beijosdeluz #gratidão #empoderamento) e
gosto de pensar que a vida fica melhor
quando a gente se dispõe a pensar naquilo pelo que devemos agradecer. E,
voltando às polêmicas (de Facebook ou vida real) vale fazer um esforço para
compreender como e por que as pessoas pensam dessa ou de outra maneira. Não precisamos
concordar com elas, mas o exercício de calçar os sapatos dos outros e perceber
o trajeto até o ponto onde elas chegaram até nós é uma possibilidade, no
mínimo, instigante.
ATIVIDADE:
1.
Destacar palavras e frases que chamam sua atenção.
2.
Dialogar sobre o significado de empatia e citar exemplos...
3.
Dialogar sobre o que significa sair da
bolha...
4.
Dialogar sobre o significado de outrospecção
e instrospecção...
5.
Outros destaques no texto...
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